segunda-feira, 8 de abril de 2013

A realidade me pegou pelo pé!


Provavelmente não estou certa, mas desde a gravidez tento blindar a minha família do mundo real. Do universo cinza que insiste em predominar lá fora. Por medo, principalmente, de criar uma paranoia e não viver.

O lema é: da porta para dentro, o amor e a alegria ditam as regras.

Sei muito bem que a realidade é dura e que a humanidade é portadora de males difíceis de curar. Violência, pobreza, corrupção...Está tudo aí, às vistas de todos. Entretanto, eu insistia em não vê-la, empurrá-la para debaixo do tapete para que minha princesa não a experimentasse.

Mas no final de semana, um choque de realidade sacudiu minha cabeça, mexeu com toda minha estrutura e me fez repensar e reavaliar minha conduta. Afinal, não há bolha que um dia não estoure! Não poderia mantê-la nessa redoma por muito mais tempo.

Sábado foi o dia do curso de batismo. Manu será batizada numa Igreja que tem como público principal uma comunidade carente: do Andaraí.

No dia da palestra, o voluntário fez uma espécie de dinâmica com os adultos presentes. Separou-nos em seis grupos e cada um deveria ler um texto e responder duas perguntas. Cada grupo deveria eleger alguém para reunir as respostas e lê-las para todos.

O meu era o 1. Nele, havia 7 pessoas: 4 mulheres e 3 homens. O voluntário pediu a um dos homens que fosse o responsável, mas ele não esboçou qualquer reação além de alguns “Oi?” , “Hãn?”. Então o senhor pediu a mim, que aceitei (Certeza de que isso sobraria para mim! Atraio!).

Textos em mãos, devidamente distribuídos. Li. Esperei mais um pouco e perguntei se todos haviam lido. E das outras 6 pessoas presentes, 4 me responderam que não sabiam ler.

Sim, 4!

4 de 7.

57%.

Meu queixo caiu. De tola que sou, mas caiu. Meu coração doeu, apertou. Pois, mesmo sendo essa uma realidade a qual vivencio há muito tempo, há pelo menos um ano a mantinha longe de mim. Não queria ver. Não queria pensar que é nesse mundo que coloquei minha gordinha. Que esse mundo ainda existe.

Pedi desculpas. Agi com naturalidade e disse que não havia qualquer problema naquilo. Leria o texto em voz alta, explicaria e bateríamos um papo depois. E assim foi. Houve dificuldade em entender a passagem Bíblica, mais ainda em responder as perguntas. Mas, com jeitinho, todos contribuíram igualmente para a resposta final.

Não é de hoje que desejo voluntariar em algum projeto. E sempre disse que quando tivesse um filho, ainda pequeno, o carregaria comigo para praticar a caridade, como fazia minha mãe. Planejava levar a Manu depois dos 4 anos para levar alegria a quem precisa. Mas, depois dessa, senti uma necessidade enorme em não esperar. Em ir logo. Uma urgência de agir. Quando a baixinha puder, irá comigo. 

Enquanto não é possível, marido sugeriu ficar com ela para eu me dedicar. Curti e começo a pensar mais seriamente no assunto.

A vontade foi ainda maior de atuar naquela Igreja, a poucos passos da minha casa. Mesmo não sendo católica, há ali (e em todas as outras, acredito eu!) um atendimento belíssimo à comunidade. Para dar um exemplo: a creche conta hoje com 126 crianças carentes. Um número bastante significativo de mães que precisam, como a maioria de nós, deixar seus filhos aos cuidados dos outros para ganhar pouco dinheiro.

E tudo isso me fez pensar, mais uma vez, sobre exemplos. Sobre quem queremos que nossos filhos se tornem. Não que caiba a nós definir a personalidade deles. De jeito nenhum. Mas se queremos formar cidadãos conscientes, cheios de amor e boa vontade, temos, sim, de dar o exemplo!

Não quero que a Manu cresça fingindo não ver as desigualdades. Indiferente ao sofrimento dos outros. Não foi assim que eu cresci. Desde pequena, minha mãe levava a mim e minha irmã para ajudar pessoas carentes. Trabalho voluntário em creches, hospitais, festas beneficentes, tudo isso sempre fez parte da minha vida. Não seria justo agora, na minha vez de educar, alienar-me para poupá-la da inevitável realidade.

Por isso, conversarei bastante com o marido para vermos o melhor momento de colocar a mão na massa e servir. Sinto que é o momento e que tem amor que não acaba mais aqui dentro...

Imagem retirada de:
http://nitportalsocial.blogspot.com.br/2013/02/nit-portal-social-artigo-inscricoes.html#axzz2Pt8J1zv7

4 comentários:

  1. Clap, clap, clap, clap!!!
    Palmas!!

    Excelente!

    Lindo texto, de sensibilidade tangível, Pati.

    Eu tbm sinto essa necessidade, sei que temos muito mais do que algumas pessoas, podemos tentar amenizar o sofrimento de alguns... pq não?!

    É difícil a beça, mas vale a pena.

    Adorei o que expôs, concordo com tudo!

    Beijo!

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  2. Filha, sei o quanto temos necessidade de colocar a mão na massa.Foi assim que eduquei vocês. Sempre fizemos trabalho voluntário. Com sua família, acredito, não será diferente. Mostrar pra Manú que somos todos iguais e que temos sim obrigação de ajudar, fará parte do crescimento, evolução e personalidade dela.Mas por favo,espera só ela aprender a falar e andar. Tenho certeza que criada com tanto amor ela terá bastante o que oferecer ao próximo.Enquanto isso, coloque a mão na massa você!!!!!
    Te amo!!!!!!!!!!!!!!!!

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  3. Olá Paty
    Agradeço a sua visita no meu post sobre Birras Infantis no Recanto das Mamães Blogueiras.
    Bjks
    www.makeviagem.blogspot.com.br

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  4. Oi Paty! A realidade muitas vezes nos assusta. Podemos saber que algo existe, mas constar é doído, não? Também tenho o desejo de voluntariar ensinando e ainda vou realizar. Parabéns! Entre em contato comigo através do ghangai@hotmail.com. Quero lhe convidar para uma postagem no Blog. Beijo, Gisa Hangai

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